Sábado, 5 de Janeiro de 2013

pequenos fragmentos, 41.

Mas, no sonho de Duarte, essa construção fantástica haveria de ruir por completo: entrou em casa com seis caixas de cartão e começou por Wolfgang: o menino prodígio. O menino mimado armado em brincalhão. Um espertalhão a brincar às notas. Um brinca-na-areia incapaz de marcar um golo fora da área, de sujar os calções, incapaz de fazer uma falta, um passe de quarenta metros, perdido em rodriguinhos, perdido no labririnto que a sua própria habilidade tecia. Tirando talvez, sejamos justos, o concerto em Dó menor, o vinte e quatro. Aí sim. Aí foste quase um homem. Mas aí já era tarde, caralho. Já tinhas perdido demasiado tempo a dizer, olhem para mim, sou o Mozart. Vejam o que consigo fazer. E agora isto. E mais esta. Esperem. Esperem. Tenho mais um truque que vos vou mostrar. Tão genial que eu sou. Olhem para mim a bater punhetas. Punhetazinhas com as pontas dos dedinhos. E vocês todos a aplaudir, extasiados com a minha esporra a escorrer-vos pelas bocas. Puta que te pariu, Wolfgang.

 

O Teu Rosto Será o Último - João Ricardo Pedro (Leya)

O que por cá se ouve...: apenas ruído de fundo por agora.
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Sábado, 24 de Dezembro de 2011

pequenos fragmentos, 39.

Observar a vida dos outros pode transformar-se num vício. Quando, esta manhã, olhei (o mais dissimuladamente que pude) para a parte de trás do autocarro, as pessoas que lá estavam sentadas tinham quase todas o olhar parado, sem pestanejar, dirigido em diferentes direcções . Talvez fossem pensando na vida, no trabalho que tinham pela frente, nos filhos, nos netos, no cardápio para o jantar, nas prestações por pagar, mas, olhando-as, faziam apenas lembrar  automatos de carne e osso, macilentos, que tivessem sido desligados ou estivessem hibernando até ao momento em que lhes fosse necessário retomar as actividades quotidianas. Havia, ainda assim, uma mulher ruiva dormindo, cabeceando um pouco. Pareceu-me, a ruiva, a pessoa mais viva de todas as que iam na parte de trás do autocarro.

 

Uma Mentira Mil Vezes Repetida - Manuel Jorge Marmelo (Livros Quetzal)

O que por cá se ouve...: The Black Keys - Little Black Submarines
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Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2011

pequenos fragmentos, 38.

Sem abrir os olhos, sentindo um sonho a dissolver-se tão depressa que já nem se lembrava de qual era, Hector levou uma mão ao outro lado da cama, num gesto indolente. Óptimo. Aisha já se tinha levantado. Soltou um vitorioso peido, enterrando o rosto bem fundo na almofada para fugir ao pegajoso fedor a metano. Não tenho vontade nenhuma de dormir num balneário de rapazes, queixava-se sempre Aisha, nos raros momentos de desatenção em que ele se descuidava à frente dela. Ao longo dos anos, aprendera a refrear o corpo, só se desleixava quando estava sozinho: peidava-se e mijava no duche, arrotava no carro, não tomava banho ou não lavava os dentes o fim-de-semana inteiro, quando ela estava fora, em congressos. Não é que a sua mulher fosse pudica, parecia simplesmente ter dificuldade em tolerar os cheiros e expressões do corpo masculino. Já ele não teria qualquer problema em adormecer num balneário de raparigas, rodeado pela fragrância húmida e inebriante a coninha jovem e doce. A boiar, ainda meio preso nas tenras garras do sono, virou-se de barriga para cima e afastou o lençol do corpo. Coninha jovem e doce. Falara em voz alta.

 

A Bofetada - Christos Tsiolkas (D. Quixote)

O que por cá se ouve...: The Black Keys - Heavy Soul
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Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011

pequenos fragmentos, 37.

As torturas são executadas no compartimento daquele que escolheram como carrasco. Por isso quando vês que se dirigem para o teu compartimento não consegues evitar a alegria: cerras os punhos, dás um urro de satisfação.

Só quando entrares no teu compartimento é que verás quem vai ser torturado por ti. Pode ser um desconhecido, mas pode também ser um amigo ou alguém que ames. Nessa altura sentirás nojo, não tanto pelo acto de tortura, a que és obrigado, mas pela alegria sentida, momentos atrás, quando percebeste que não irias ser a vítima.

 

Jerusalém - Gonçalo M. Tavares (Caminho)

O que por cá se ouve...: Blood Orange - Complete Failure
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Domingo, 13 de Novembro de 2011

pequenos fragmentos, 36.

- Não me importo que durmas lá em casa, mas nada de brincadeiras.

- Não, não, está bem. Não estou à procura disso. Só queria ficar contigo mais um bocadinho. Não me importo onde me deitares. Sou capaz de dormir em qualquer sítio... até mesmo no chão. E amanhã estou de folga, pelo que também podemos fazer qualquer coisa durante a manhã.

 

No regresso ao apartamento de Aomame, em Jiyūgaoka, apanharam o metro e chegaram a casa ao bater das onze. Estavam as duas agradavelmente alcoolizadas e sonolentas. Aomame fez a cama no sofá e emprestou um pijama a Ayumi.

- Posso ir para a tua cama por um ou dois minutos? - perguntou Ayumi. - Quero ficar junto de ti mais um bocadinho. Não me ponho com brincadeiras, prometo.

 

1Q84 - Haruki Murakami (Casa das Letras)

O que por cá se ouve...: White Mistery - Smoke
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Segunda-feira, 5 de Setembro de 2011

pequenos fragmentos, 35. (porque lembrei disto)

Abri a bracelete do teu relógio e fechei-a no meu pulso. Ainda as marcas de suor, ainda tu. Parada no ar, a minha mão dirigiu-se à tua gaveta. E, entre facturas, entre somas e multiplicações calculadas com os teus números, descobri um quadrado pequeno de cartolina com um coração redondo de papel de lustro. Abri-o e, com as minhas letras infantis, sobre linhas feitas com uma régua, li: Amo o meu pai,/ Amo o meu paizinho,/ Não tenho mais para te dar,/ Dou-te o meu carinho. E chorei.

 

Morreste-me - José Luís Peixoto (Quetzal Editores)

O que por cá se ouve...: nenhuma
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Sábado, 3 de Setembro de 2011

pequenos fragmentos, 34.

Esta coisa que aqui não se vê é a mais violenta - pensa Lenz -, esta coisa que está entre os livros, entre cada dois livros, energia que não tem nome senão o nome dos seus proprietários, Lenz Buchmann e o corajoso oficial Frederich Buchmann, seu pai.

E Lenz por uma vez sentiu-se atacado e sem tempo para reagir. Encostou-se a uma das prateleiras, baixou a cabeça e, pela primeira vez desde a morte do pai, fez o que não fizera sequer no enterro desse homem que colocara uma bala na cabeça no momento em que percebera que a fraqueza, com maneiras indelicadas, tomava conta dele. 

 

Aprender a rezar na Era da Técnica - Gonçalo M. Tavares (Caminho)

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Sexta-feira, 19 de Agosto de 2011

pequenos fragmentos, 33.

Corro, só isso. Corro no vazio. Dito de outro modo: corro para atingir o vazio. No entanto, há sempre um pensamento ou outro que acaba por se introduzir nesse vazio. O espírito humano não pode ser um vazio completo. As emoções dos homens não se revelam suficientemente fortes ou consistentes, ao ponto de albergarem o vazio. Quero com isto dizer que os pensamentos e ideias que invadem o meu espírito enquanto corro permanecem subordinados a esse espaço oco. Na medida em que lhes falta conteúdo, mais não são do que pensamentos ao correr da pena que têm como eixo a natureza do próprio vazio.

 

Auto Retrato do Escritor enquanto corredor de fundo - Haruki Murakami (Casa das Letras)

O que por cá se ouve...: Tunnels - How I Hate You
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Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

pequenos fragmentos, 32.

"E vou dizer-vos mais uma coisa. Uma minoria tem a sua forma própria de agressão. Desafia a maioria a atacá-la. Odeia a maioria, não sem um motivo, garanto-vos. Odeia até as outras minorias, porque todas as minorias estão em competição; cada uma proclama que os seus sofrimentos são os piores e que os seus males são os mais negros. E quanto mais odeiam mais perseguidos são, mais odiosos se tornam! Acham que sermos amados nos torna odiosos? Sabem que não! Então porque motivo o facto de sermos odiados havia de tornar-nos simpáticos? Enquanto estamos a ser perseguidos, odiamos as pessoas que contribuem para isso, vivemos num universo de ódio. Nem reconheceríamos o amor se deparássemos com ele. Desconfiaríamos dele! Pensaríamos que havia alguma coisa por trás... Algum motivo... Alguma armadilha...

 

Um Homem Singular - Christopher Isherwood (Quetzal Editores)

O que por cá se ouve...: The Drums - Best Friend
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Segunda-feira, 4 de Julho de 2011

pequenos fragmentos, 31.

O inspector Flint era igual. Era mais obcecado, mas a táctica era exactamente a mesma. E, além disso, ele agarrara-se furiosamente a uma interpretação dos factos completamente errada e Wilt divertia-se a observá-lo a tentar imputar-lhe um crime que não cometera. Quase o fizera sentir-se importante e, sem dúvida, muito mais homem do que há muito, muito tempo, se sentira. Estava inocente e isso era irrefutável. Num mundo onde tudo era duvidoso e incerto de cepticismo, a sua inocência era uma certeza. Pela primeira vez na sua vida de adulto, Wilt sabia que tinha toda a razão, e o facto de o saber dava-lhe uma força que nunca pensara possuir. E, por outro lado, não havia qualquer dúvida no seu espírito de que Eva acabaria por aparecer, sã e salva, e até bastante mansa quando percebesse até onde a sua impulsividade a levara.

 

Wilt - Tom Sharpe (Teorema)

O que por cá se ouve...: Madeleine Peyroux - Martha, My Dear
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Terça-feira, 14 de Junho de 2011

pequenos fragmentos, 30.

Quando ainda era mortal debruçava-me sobre Lisboa a partir de Paris, e invariavelmente uma comoção semelhante à vergonha me passava pela alma, por me parecerem tão diminutos os assuntos que eu via serem debatidos pelos meus amigos nos cafés do Chiado. Hoje debruço-me sobre Portugal de uma varanda mais vasta - a Eternidade - e de novo me aflige o desdouro. Não que Portugal esteja pior do que há cem anos; está todavia mais pequeno. Já nem é bem um país - é um resumo.

 

O Lugar do Morto - José Eduardo Agualusa (Tinta da China)

 

(e começa assim este apanhado de crónicas publicadas na Ler.)

O que por cá se ouve...: Black Eagle Child - Families Get Together
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Domingo, 10 de Abril de 2011

verborreia dominical,

Enquanto esperava pelo almoço num restaurante de take away encontrei por acaso o pai de uma amiga de infância, dos tempos de escola. O que surgiu-me de imediato, foi a forma como o senhor me está associado. A lembrança que dele tenho, portanto. Levava a filha aos treinos, organizava as festas da filha e deixava a malta sempre bem à vontade. Com isto, ocorreu-me o que será que acontece com os meus amigos quando por algum acaso encontram o meu pai por aqui ou ali. Qual será a imagem que dele têm associada?

De imediato sou capaz de concluir que será sempre alguma situação que resvale num qualquer acontecimento cómico-trágico. E porquê? Não porque o meu pai goste, ou porque ao longo do tempo seja o palhacito de serviço, mas apenas, porque é exatamente essa a imagem que transmito dele.

E quando me perguntam porque sou tão gozão, tudo se prende com o simples facto, de que desde tenra idade tive a sorte e privilégio de poder ridicularizar a jeito de comédia os meus progenitores. Para eles não era insulto, mas sim,  sinal de humor.

Então, sempre que algum amigo ou conhecido encontre o meu pai e de imediato lhe surja um momento mais cómico dele, só tiveram acesso a esse mesmo momento porque o palhacito de serviço (eu), aproveitou a situação para poder criar uma ou outra chalaça.

Se por algum acaso alguma vez leres isto pai, espero que saibas que o monstro quem o criou foste tu! És e serás sempre a minha referência no toca a momentos de humor. Sempre com um trago de carinho que trago por ti. 

 

O que por cá se ouve...: Warpaint - Baby
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Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

pequenos fragmentos, 29.

A conclusão não chega a ser surpreendente, uma vez que não é difícil imaginar que tal suceda a todos os que têm o hábito, talvez pernicioso, de comprar livros de um modo compulsivo, enchendo com eles estantes e mais estantes e lendo-os demasiado depressa, às vezes sublinhando frases, outras dobrando os cantos das páginas como se assim se fosse deixando para trás um rasto que é como um país se conhece a correr, prometendo voltar um dia para percorrer com mais vagar a sombra das ruas, a frescura das fontes, o vozerio dos mercados e a fala diversa das gentes. Assinalam-se nesse peculiar mapa os sítios a revisitar e, ao fazê-lo, establece-se um compromisso, uma promessa que talvez jamais se cumpra, perdendo os livros nas estantes, entregando-os ao pó e ao esquecimento, as dobras nos cantos das páginas vincando-se até serem tatuagens, marcas que não se apagam e que, um dia, comunicarão aos vindouros que aquele livro, um livro qualquer, pertenceu a um homem sem carácter que passou pela vida sem realmente ter chegado a conhecer coisa nenhuma.

 

Aonde o Vento Me Levar - Manuel Jorge Marmelo (Campo de Letras)

O que por cá se ouve...: Marianne Faithfull - Why Did We Have To Part
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Sexta-feira, 22 de Outubro de 2010

pequenos fragmentos, 28.

Comprara duas grandes fazendas, ali perto, na margem do rio, uma região famosa pela produção de vinho. Plantava maconha entre as videiras. A melhor maconha do Brasil. O vinho nem por isso. Rezava todos os dias a São Judas Tadeu, padroeiro das causa impossíveis, pedindo-lhe força para lutar contra os ecologistas, os hippies e toda a múltipla malandragem insensata que defende a legalização das drogas leves.

Bom é o interdito, disse. Senão veja, Adão e Eva, os nossos pais, viviam num paraíso tropical. Paraíso tropical, de resto, me parece um oxímoro. Só pode ser paraíso se for tropical. Ninguém imagina o paraíso situado na Suécia, por muito gostosas que as suecas sejam, e algumas são, embora, no meu parecer, lhes sobeje em peito o que lhes escasseia em bunda. Lá, no paraíso, mamãe e papai dispunham de boas mangas, abacaxis, papaias, goiabas, cajus, maracujás, talvez até acerolas, cajás, graviolas. Porque iriam se interessar por maças, frutinho mais sem graça, estúpido e insípido? Eu só comeria maças se me dissessem que não o podia fazer.

 

Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa (D. Quixote)

O que por cá se ouve...: Belle And Sebastian - I Want The World To Stop
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Domingo, 5 de Setembro de 2010

pequenos fragmentos, 27.

O studium é o campo amplo do desejo negligente, do interesse diversificado, do gosto inconsequente: gosto/não gosto, I like/I don't. O studium é a ordem do to like e não do to love; mobiliza um meio-desejo, um meio-querer; é a mesma espécie de interesse vago, plano, irresponsável que sentimos por pessoas, espetáculos, vestidos e livros que achamos «bem».

 

A Câmara Clara - Roland Barthes (Edições Setenta)

O que por cá se ouve...: REVERE – Forgotten Names
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Terça-feira, 3 de Agosto de 2010

pequenos fragmentos, 26.

Em todo o caso, as mulheres são o que são: aparecem, insinuam-se, metem-se-nos no coração e, em pouco tempo, tomam conta das nossas vidas. Colonizam-nos. Subvertem a nossa natureza e moldam-na de acordo com os seus caprichos. Se somos inocentes e fracos, podem transformar-nos em monstros sem coração. Se somos duros e cruéis, são capazes de domesticar-nos, reduzem-nos a quase nada. Tenho visto muitos casos semelhantes e foi isto que me tornou desconfiado.

 

Aonde o Vento Me Levar - Manuel Jorge Marmelo (Campo de Letras)

O que por cá se ouve...: Kxp - Pockets
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Terça-feira, 6 de Julho de 2010

pequenos fragmentos, 25.

Subi as escadas (não havia elevador) e enfiei a chave na fechadura. A porta abriu-se. Alguém tinha alterado a disposição da mobília e posto um tapete novo. Não, a mobília também era nova.

Estava uma mulher sentada no sofá. Tinha bom aspecto. Jovem. Boas pernas. Uma loura.

- Olá - disse eu - , vai uma cerveja?

- Oi! - disse ela. - Está bem, aceito.

- Gosto da decoração desta sala - disse-lhe eu.

- Fui eu que tratei disso.

- Mas porquê?

- Apeteceu-me, muito simplesmente - disse ela.

Ambos bebemos um bocado de cerveja.

- És porreira - disse eu. Pousei a lata de cerveja e dei-lhe um beijo. Pus a mão no joelho dela. Era um joelho agradável.

Depois bebi mais um gole de cerveja.

- Sim - disse eu -, gosto mesmo do aspecto disto. Vai-me ajudar a levantar o moral.

- Que bom. O meu marido também gosta.

- Mas porque é que o teu marido... O quê? O teu marido? Espera qual é o número deste apartamento?

- 309.

- 309? Meu Deus! Estou no andar errado! Eu vivo no 409. A minha chave abriu a tua porta.

- Senta-te, queridinho - disse ela.

Peguei nas quatro cervejas que restavam.

-Porque é que vais assim a fugir? - perguntou ela.

- Há homens que são doidos - disse eu, dirigindo-me para a porta.

- O que é que queres dizer com isso?

- Quero dizer que há homens que estão apaixonados pelas suas mulheres.

Ela riu-se.

- Lembra-te que estou aqui.

Fechei a porta e subi mais um lanço de escadas. Depois abri a minha porta. Não havia ninguém lá dentro. A mobília era velha e estragada, do tapete mal se via a cor. Latas de cerveja vazias no chão. Eu estava no sítio certo.

Tirei a roupa, fui sozinho para a cama e despachei mais uma cerveja.

 

Correios - Charles Bukowski (Antígona)

O que por cá se ouve...: Little Joy - Keep Me In Mind
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Quinta-feira, 15 de Abril de 2010

Com aquele toque,

Away We Go

 

"- Burt, are we fuck-ups?

- No. What do you mean?

- I mean, we're 34.

- 33.

- We don't even have this basic stuff figured out.

- Basic, like how?

- Basic, like how to live.

- We're not fuck-ups.

- We have a cardboard window.

- We're not fuck-ups.

- I think we might be fuck-ups.

- We're not fuck-ups. "

 

*que bela recordação!

O que por cá se ouve...: Alexi Murdoch - Her Hands Were Leaves
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Segunda-feira, 23 de Novembro de 2009

pequenos fragmentos, 24.

Atravessar a sierra não era apenas mais uma etapa da minha viagem, apesar da barreira física. Era também um daqueles súbitos avanços na vida que depois de terminados fecham o passado para sempre. Foi, para mim, uma fronteira em mais do que um sentido e só depois de a passar me senti realmente envolvido por Espanha.

A sierra, como a Lua, tinha duas faces distintas: a face Norte era isolada e fria na sua sombra, um lugar de verdes matagais e silêncio alpino, enquanto a Sul a montanha era apenas uma áspera rocha queimada, os penhascos despidos pelo sol...

 

Quando Parti Numa Manhã de Verão - Laurie Lee (Bertrand Editora)

O que por cá se ouve...: Of Montreal corre no rádio.
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Domingo, 16 de Agosto de 2009

pequenos fragmentos, 23.

Caro Eric,

P) O que é o não espaço?

R) Parques de estacionamento sem letreiro, túneis estreitos, sotãos e caves sem uso, abrigos subterrâneos, corredores de manutenção, unidades industriais abandonadas, casas com portas e janelas entaipadas, fábricas condenadas com vidros quebrados, centrais eléctricas desativadas, instalações subterrâneas, armazéns, hospitais abandonados, saídas de emergência, telhados, catacumbas, igrejas decadentes com torres em perigo de ruir, explorações mineiras esventradas, esgotos vitorianos, túneis obscuros, galerias, sistemas de ventilação, poços de escadas, elevadores, corredores serpenteantes e pardacentos por detrás de gabinetes de prova em lojas de roupa, cavidades de nenhures por debaixo de câmaras de visita e por detrás das ervas daninhas na berma de linhas ferroviárias.

 

 Memória de Tubarão - Steven Hall (Editorial Presença)

O que por cá se ouve...: da viola do vizinho.
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Quinta-feira, 6 de Agosto de 2009

pequenos fragmentos, 22.

Eulálio estava falante, me saudou pelos cem anos de uma vida de aventuras, garantiu à menina Kim que eu tinha dormido com as melhores mulheres do meu tempo [...]

[...] Sem falar na cocaína, disse Eulálio, que os bacanos de antigamente compravam na farmácia, não era esse pó de gesso que otário cheira por aí. Nisso me fez sentar com ele à mesa, sacou um estojo do bolso do paletó, e fiquei besta, eu nunca mais tinha visto o estojo de ébano do meu pai. Com a miniespátula do meu pai ele bateu e separou o pó em quatro fileiras bem fornidas, me passou o canudo de prata e disse, vai fundo, vovô. E fui mesmo, de um tiro só, foi mais fácil aspirar a coca que soprar as velas do bolo.

 

Leite Derramando - Chico Buarque (Dom Quixote)

 

O que por cá se ouve...: a das ondas do mar
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Sábado, 18 de Julho de 2009

pequenos fragmentos, 21.

 Queria deixar bem claro que uma coisa era o mundo para lá de África, outra era a África propriamente dita e outra ainda a África de que ninguém fala; queria que eu visse, com os meus próprios olhos, que aquele seu mundo não era a preto e branco, que era ainda mais complexo do que a complexidade que já se lhe reconhecia; que apesar da fome, das doenças estranhas, da hidrocefalia, da malária e da sida, das ruínas da guerra e dos estropiados, das feras à solta e dos animais peçonhentos, do tribalismo e da crendice, da vingança e da crueldade, do sofrimento e da falta de esperança, as pessoas continuavam com as suas vidas e tinham até uma certa propensão para a felicidade. 

 

Niassa - Francisco Camacho (Edições Asa)

O que por cá se ouve...: The Popes - Boys Don't Cry
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Quarta-feira, 10 de Junho de 2009

pequenos fragmentos, 20.

OK, exagero, às vezes deixo-me arrastar pela literatura e pelo rancor. Seja como for não gosto dele. Odiá-lo, odiar pessoas como Malaquias, parece-me um dever cívico, e no entanto o tipo fascina-me. O mal fascina-me. Os personagens abomináveis, como toda a gente sabe, são literalmente mais interessantes do que aqueles de coração puro.

 

Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa (Dom Quixote)

O que por cá se ouve...: Tiny Vipers - Life On Earth
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Quinta-feira, 14 de Maio de 2009

pequenos fragmentos, 19.

Durante muito tempo, toda uma época em que decorreu a sua adolescência, a caça foi para Cosimo um mundo. E não só a caça, mas a pesca também, porque a ela se dedicava, aguardando, num local onde as águas da torrente fossem mais calmas, que as enguias e as trutas lhe viessem morder o anzol, preso à linha com que, empoleirado nos ramos da árvore, ele se entretinha a pescar. Por vezes dávamos connosco próprios a pensar em Cosimo como se este possuísse instintos e sentidos completamente diversos dos nossos, como se aquelas peles com as quais confeccionara o seu novo vestuário correspondessem nele a uma transmutação completa da natureza.

  

O Barão Trepador - Italo Calvino (Teorema)

O que por cá se ouve...: Eels – My Timing is Off
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Domingo, 4 de Janeiro de 2009

Waltz with Bashir

 Waltz With Bashir

 

Waltz With Bashir

(desta forma o ano começa com a fasquia bem em cima)

O que por cá se ouve...: o som do silêncio
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Domingo, 23 de Novembro de 2008

pequenos fragmentos, 18.

Ao fim da tarde, a malta vinha da escola e das fábricas, despia-se e mergulhava. Ninguém usava fato de banho, ninguém fazia cerimónia com as lavadeiras que batiam a roupa nas suas tripeças dentro do rio. Rapazes e homens tomavam banho nus, alguns vinham lavar-se no rio, ensaboavam-se com sabão macaco e mergulhavam. As lavadeiras riam-se e comentavam: Ai o filho da mãe que já pinta. E às vezes, depois da escola, nós vinhamos arrancar as canoilas do campo e lançá-las, ainda cheias de terra, para cima da roupa a corar no areal. Elas corriam atrás de nós e algumas chamavam filhos da puta aos próprios filhos. Eu gostava de vê-las com as mamas a dar a dar e as saias arregaçadas que deixavam à mostra as grossas coxas muito brancas.

 

                                                                                                Alma - Manuel Alegre (Dom Quixote)

O que por cá se ouve...: Lights - Break, Run, Fly
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Terça-feira, 25 de Março de 2008

pequenos fragmentos, 17.

-Quer que a leve? ...-, disse ele, rindo mas baixinho, por causa da casa adormecida. Ela envolveu-o num olhar lento, desdenhoso e terno, um olhar de experiência que o avaliava e claramente dizia: "Pobre pequeno..."
Então ele, com um bonito impulso, bem da sua idade e do seu Midi, pegou nela, levantou-a como a uma criança, porque, apesar da pele loura de rapariga adolescente era sólido e desempenado, e subiu o primeiro piso de um fôlego, feliz de sentir aquele peso que dois braços, frescos e nus, lhe penduravam do pescoço.
Chegados ao segundo andar, subiu mais lentamente, sem prazer. A mulher abandonava-se, fazia-se cada vez mais pesada. O metal dos brincos dela, que começara por acariciá-lo com uma espécie de cócega, pouco a pouco penetrava-lhe cruelmente na carne.
No terceiro andar, arquejava como o carregador que faz a mudança de um piano; faltava-lhe o fôlego, enquanto ela murmurava, deliciada, semicerrando as pálpebras: - Oh, meu amigo, é tão bom... - E os últimos degraus, que escalou um a um, pareciam-lhe os de uma escada gigante cujos muros, corrimão e janelas estreitas se enrolavam numa espiral interminável. Já não era a mulher que transportava, mas uma coisa qualquer, pesada, horrível, que o asfixiava e que, a todo o momento, se sentia tentado a largar, a arremessar com cólera, ainda que correndo o risco de a esmagar brutalmente.
Ao chegarem ao patamar acanhado: - Já... - disse ela, abrindo os olhos. Ele pensava: "Até que enfim!...", mas não teria sido capaz de o dizer, muito pálido, com as duas mãos no peito que sentia a rebentar.
Era a história completa deles: aquele subir das escadas na tristeza cinzenta da manhã.


                                                                                               Sapho - Alphonse Daudet (Dom Quixote)
O que por cá se ouve...: Otis Taylor - Les Ognons
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Domingo, 9 de Março de 2008

pequenos fragmentos, 16.

James


The Melancholy Death Of Oyster Boy & Other Stories - Tim Burton (Faber and Faber)
O que por cá se ouve...: Isobel Campbell And Mark Lanegan - Come On Over (Turn Me On)
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Domingo, 23 de Dezembro de 2007

pequenos fragmentos, 15.

... I watched an old American submarine movie on television. The creaking plot had the captain and first officer constantly at each other's throat. The submarine was a fossil, and one guy had claustrophobia. But all didn't stop everything from working out well in the end. It was an everything-works-out-in-the-end-so-maybe-war's-not-so-bad-after-all sort of film. One of these days they'll making a film where the whole human race gets wiped out in a nuclear war, but everything works out in the end.
I switched off the television, climbed into bed, and was asleep in ten seconds.

                                                             A Wild Sheep Chase - Haruki Murakami (Vintage International)
O que por cá se ouve...: Squirrel Nut Zippers - I'm Coming Home For Christmas
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Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

pequenos fragmentos, 14.

'Uma das felizes recordações da minha adolescência é de correr nos campos da aldeia onde nasci. Já correu num campo cercado de árvores carregadas de fruta?'
'Nunca.'
'Oh!', sorriu. 'É uma delícia. Os pulmões enchem-se de perfume a maçã, trigo e erva. Corre e ri e sente que o mundo está todo ali. Ouve o coração a bater nos ouvidos, sente o estômago aos pulos, quente e pequeno. Quando chega a casa não tem fome. Correu a tarde toda e não tem fome porque tem a garganta cheia de Verão. Sabe o que isso é? Adormecer cansado de uma corrida dessas e só acordar na manhã seguinte sem sentir fome?'...
... 'Não acredito na alma, Laura. Acho que a mente é um produto do cérebro. O cérebro, está a ver, pensa. É o que ele faz. Assim como os pulmões oxigenam o sangue. É o que os pulmões fazem. A Laura pode encher os seus pulmões de vento com cheiro a maçã, como durante uma das suas corridas de infância, ou com o ar cheio de dióxido de carbono e chumbo desta cidade que eles não se sentem pior ou melhor em virtude disso. No mínimo, a um nível consciente. Avaliar a informação com consciência é o trabalho do cérebro.'

                                        O Holocausto e o Testamento de Laura Carvalho - David Soares                                                                                                                       (edições chimpanzé intelectual)
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Sábado, 6 de Outubro de 2007

pequenos fragmentos, 13.

Sou um tipo que se apaixona com facilidade. Também desanimo, verdade seja dita, com idêntica facilidade. Volúvel, acusa a minha mãe. Talvez. O que me atrai numa mulher é o que não sei sobre ela. Algumas mulheres usam o silêncio como quem veste uma burqa. Um homem fica a imaginar o que existe por detrás daquele silêncio pesado e escuro e sem frestas, que mal deixa adivinhar a forma do pensamento. Imaginar já é amar. Há, depois, as mulheres que falam, mas com uma voz de tal forma sedutora, levemente rouca e ao mesmo tempo luminosa, que é como se não falassem, pois nós, os homens, apenas conseguimos reparar na voz, e não naquilo que elas dizem. «Como podes apaixonar-te por aguém que não conheces?!», aborrece-se a minha mãe. Precisamente, digo-lhe, ninguém se apaixona por um conhecido.

                                                  As Mulheres Do Meu Pai - José Eduardo Agualusa (Don Quixote)
O que por cá se ouve...: Sea Wolf - You're a Wolf
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Terça-feira, 2 de Outubro de 2007

pequenos fragmentos, 12.

'Los viajes son una metáfora, una réplica terrenal del único viaje que de verdade importa: el viaje interior. El viajero peregrino se dirige, más allá del último horizonte, hacia una meta que ya está presente en lo más íntimo de su ser, aunque aún siga oculta a si mirada. Se trata de descobrir esa meta, que equivale a descobrir-se a sí mismo; no se trata de conocer al outro.'

                                                                                                                                         Javier Moro
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Terça-feira, 25 de Setembro de 2007

e vai uma palavrinha, 13.

Noites mal passadas como a de ontem deixam qualquer um inanido!
Coisas da vida...

adj.,       
                    extenuado;
                    enfraquecido.
       exausto de forças;
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Postado por rodry às 18:20
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Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007

patronatos e afins.

ao que parece o ardiloso começa lentamente a escutar a sapiência do senhor seu pai e passar a acreditar que os patronos são todos feitos da mesma fibra.
Quando tudo está bem, tudo é um doce  e alegre dia de primavera. Somos todos uma só família. Quando começa a dar para o torto por diversas razões, qualquer coisa (nem as imaginárias) servem para transformar um solarengo dia de verão, no Inverno mais cinzento e chuvoso possível. A  família de outrora também faz órfãos.
O que por cá se ouve...: Johnathan Rice - We're All Stuck Out In The Desert
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Postado por rodry às 00:36
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Sábado, 1 de Setembro de 2007

suavidades e coisas belas,

Durante o mega regresso a casa, o ardiloso teve bastante tempo para música, fotografia e literatura, muita literatura. E como sendo sexta, o Ípsilon foi devorado de uma ponta à outra. Ao ardiloso também agradam as coisas simples da vida.
O João Bonifácio, ontem escrevendo sobre o Strawberry Jam dos Animal Collective, em total estado de graça e usando uma analogia escreveu algo que remete ao passado e ao mesmo tempo a uma esperança de um futuro que quero antever;
"... como uma criança que pega nas ceras e pinta o céu, animais e plantas fora do traço que os delimita, seguindo a sua imaginação particular e não a realidade."

Quem não pintou fora das margens e ou quem nunca viu entes e crianças em geral a pintar assim que meta o dedo no ar.
O que por cá se ouve...: Taken By Threes - Sunshine Lady
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Quarta-feira, 22 de Agosto de 2007

e vai uma palavrinha, 12.

Mais do que o Dèja-Vú, voltar ao Alentejo traz algo de inusitado. É sempre bom voltar.
do Lat. inusitatu
adj.,
desusado;
desconhecido;
estranho;
novo;
extraordinário;
invulgar.
O que por cá se ouve...: a mesma música do lado.
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pequenos fragmentos, 11.

' « eu sou eu / Ele é ele: / É Outono e anoitece» ...

- Não se trata de ser melhor ou pior. A ideia, aqui, é de não resistir à corrente. Vem-se à tona quando se deve vir à tona e mergulha-se quando se deve mergulhar. Quando tiveres de subir, procura a torre mais alta e trepa por ela até ao topo. Quando tiveres de descer, procura o poço mais fundo e desce até ao fim.

«Eu sou ele / Ele é eu: / É Primavera e anoitece.»


                                                 Crónica do Pássaro de Corda - Haruki Murakami (Casa das Letras)
O que por cá se ouve...: uma coisa qualquer na divisão ao lado.
Hoje sinto-me,: bem
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Sábado, 10 de Março de 2007

pequenos fragmentos, 10.

E quanto mais a brasileira se encarniçava. convocando orixás, e consultanto mães-de-santo, mais os fantasmas se tumultuavam, tendo chegado ao ponto de agredir Mayra quando esta subia ao andar superior da casa, dando-lhe um safanão tão forte que se achou tomada pelo corpo todo, revolteando no ar como se a puxassem pelo braço. O susto foi tal que a brasileira se viu despedida nessa mesma noite, tendo sido aconselhada, com a cortesia possível, a ir acender velas para a puta que a pariu.

                                     O Silêncio de Um Homem Só - Manuel Jorge Marmelo (Campo das Letras)
O que por cá se ouve...: Wilco - Walken
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Domingo, 4 de Fevereiro de 2007

freeze moment from The Garden State.

Andrew Largeman: You know that point in your life when you realize that the house that you grew up in isn't really your home anymore? All of the sudden even though you have some place where you can put your stuff that idea of home is gone.

Sam: I still feel at home in my house.
Andrew Largeman: You'll see when you move out it just sort of happens one day one day and it's just gone. And you can never get it back. It's like you get homesick for a place that doesn't exist. I mean it's like this rite of passage, you know. You won't have this feeling again until you create a new idea of home for yourself, you know, for you kids, for the family you start, it's like a cycle or something. I miss the idea of it. Maybe that's all family really is. A group of people who miss the same imaginary place.

Não me lembrava bem do filme em si, e aproveitei para rever. Mas isto hoje fez imenso sentido. Só gostaria, de por vezes, conseguir dizer mais qualquer coisa que não a merda do copy/ paste.
O que por cá se ouve...: The Shins - New Slang
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Sexta-feira, 2 de Fevereiro de 2007

pequenos fragmentos, 9.

"Estamos a 15 de Agosto, a canícula dura há três semanas. O calor é insuportável, tanto dentro de casa como lá fora. Não há maneira de lhe fugir. Não gosto do calor, não gosto do verão. Um verão chuvoso, fresco, está bem, mas a canícula pôs-me sempre literalmente doente.
Acabo de estrangular a minha irmã. Está deitada na minha cama, cobri-a com um lençol. Com este calor, o corpo não tardará a cheirar mal. Não importa. Avisarei mais tarde."
..."Pegou na garrafa, na minha garrafa de aguardente, e bateu com ela na máquina de escrever; a aguardente derramou-se sobre a secretária. A minha irmâ, empunhando o gargalo da garrafa partida, aproxima-se.
Eu levantei-me, imobilizei-lhe o braço, torci-lhe o pulso, ela largou a garrafa. Caímos na cama, deitei-me em cima dela, as minhas mãos apertaram-lhe o pescoço magro e, quando cessou de se debater, eu ejaculei."
A Prova - Agota Kristof (Edições Asa)
Hoje sinto-me,: i feel a less lonelly
O que por cá se ouve...: Adam Green - Drugs
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