Sábado, 29 de Outubro de 2005
Eu fiz planos para ser um homem culto
Sem motivos para dizer não sei
Se eu fiz planos para trilhar o tal caminho
Que passos são estes que eu dei?
Mas se eu dei, já dei,
Antes assim que parar.
Agora só entre nós,
Que merda mais contas levar?
Ornatos Violeta
(Manel Cruz)
Quarta-feira, 5 de Outubro de 2005
"Rumba dos Inadaptados (ou A Morte de Um Jovem Contribuinte)", Quinteto Tati
No quarto impecável, ao lado do corpo, a carta, com um último artigo a sair no jornal de domingo, no correio dos leitores.
Dizia assim:
"Sou jovem, honesto, estudante. Trabalho, sou pago, eu pago os impostos, as letras, os juros da casa, dos móveis, dos livros na estante, dos discos, dos filmes.
Que hei-de fazer?
Eu vou ao cinema, eu leio poemas, gosto de ler!
Eu voto, eu escolho, eu olho nos olhos dos casos, dos factos, das coisas concretas.
Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!
Eu estou preocupado e um pouco dorido ao ver que em várias revistas adultos, ministros, artistas, nas revistas da tv, demonstram que os jovens são brutos, boémios, incultos, autistas, não têm emprego, ou são arrivistas e mal educados. São tão depressivos, são tão destrutivos, que hei-de fazer?
Com 23 anos já não faço planos: para quê fazer? Eu vivo na esperança, na vaga mudança que nunca vai acontecer. Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!"