Sou uma pessoa que se desilude à toa. Por tudo e por nada sinto o sabor amargo do fracasso. Por essas e por outras, tento viver sem alimentar em mim quaisquer tipo de ilusão ou expectativa. É que as desilusões pessoais são de longe, as que mais aleijam e deixam feridas por sarar.
Ontem à saída de Lisboa, já nas portagens da A1 em direcção ao Norte, havia uma habitação daquelas tipicamente construídas pelo proprietário a custo de suor e lágrimas que é certamente a menina dos seus olhos. Essa casa estava imensamente iluminada por uma publicidade feita com luzes de Natal no telhado que diziam ' Auto Reboques Rogério '. Imaginei então, que lá viveria o senhor Rogério; inevitavelmente gordo, robusto ou forte como lhe queiram chamar, de bigodinho e loiro. E todo o embaraço de sua esposa, por ter aquela publicidade no telhado da sua casinha.
O ardiloso ainda está em estado de choque. Descobriu mesmo à pouco que até o seu pai já tem um perfil no Hi5. Quem diria que alguém avesso a estas novas tecnologias, andaria agora perdido pelo fantástico mundo da internet.
'Uma das felizes recordações da minha adolescência é de correr nos campos da aldeia onde nasci. Já correu num campo cercado de árvores carregadas de fruta?' 'Nunca.' 'Oh!', sorriu. 'É uma delícia. Os pulmões enchem-se de perfume a maçã, trigo e erva. Corre e ri e sente que o mundo está todo ali. Ouve o coração a bater nos ouvidos, sente o estômago aos pulos, quente e pequeno. Quando chega a casa não tem fome. Correu a tarde toda e não tem fome porque tem a garganta cheia de Verão. Sabe o que isso é? Adormecer cansado de uma corrida dessas e só acordar na manhã seguinte sem sentir fome?'... ... 'Não acredito na alma, Laura. Acho que a mente é um produto do cérebro. O cérebro, está a ver, pensa. É o que ele faz. Assim como os pulmões oxigenam o sangue. É o que os pulmões fazem. A Laura pode encher os seus pulmões de vento com cheiro a maçã, como durante uma das suas corridas de infância, ou com o ar cheio de dióxido de carbono e chumbo desta cidade que eles não se sentem pior ou melhor em virtude disso. No mínimo, a um nível consciente. Avaliar a informação com consciência é o trabalho do cérebro.'
O Holocausto e o Testamento de LauraCarvalho - David Soares (edições chimpanzé intelectual)
O meu largo agradecimento a esse anónimo Pide, que em tanto ajudou com a correcção de alguns erros ortográficos dados por mim. Desde já o meu obrigado. No futuro tentarei usar um corrector ortográfico para que coisas destas não se repitam.
O que por cá se ouve...: robert wyatt (durante o regresso a casa)
Don't get any big ideas / They're not gonna happen You paint yourself white / And fill up with noise / But there'll be something missing Now that you've found it, it's gone / Now that you feel it, you don't / You've gone off the rails So don't get any big ideas / They're not gonna happen You'll go to hell for what your dirty mind is thinking
Começo lento e gradualmente a habituar-me a estas longas viagens de autocarro. É-me ainda complicado ficar longe de casa. Quem tem uma ligação especial a casa, saberá do que falo. Mas, no meu caso, quanto mais tempo estou sem ti por perto, mais difícil vai sendo. Por muito estranho que seja, a tua presença esbate esta estúpida necessidade de casa. Venho então a casa, pois o Alentejo sem ti é uma acutilante tortura. Vejo-te em todas as esquinas, em todos os mais improváveis locais. No entanto, sei que é lá que de momento quero estar. Estranha dualidade esta. A de um lugar, onde sem ti não vale a pena estar e de onde por vezes quero sair. Por outro lado a vontade de lá estar, porque a tua presença é ainda bem viva e dá-me o aconchego necessário enquanto não te tenho a meu lado.
O que por cá se ouve...: Beatbeat Whisper - Don't Let It Pass By
Faz alguns dias que por cá, o ardiloso transporta em si um sentimento de culpa no que diz respeito a muita gente e a família em geral. Para além dessa culpa, uma imensa vergonha. Espera no entanto poder ser mais consciente no futuro.
O que por cá se ouve...: ali farka touré (a caminho de casa)
Sou um tipo que se apaixona com facilidade. Também desanimo, verdade seja dita, com idêntica facilidade. Volúvel, acusa a minha mãe. Talvez. O que me atrai numa mulher é o que não sei sobre ela. Algumas mulheres usam o silêncio como quem veste uma burqa. Um homem fica a imaginar o que existe por detrás daquele silêncio pesado e escuro e sem frestas, que mal deixa adivinhar a forma do pensamento. Imaginar já é amar. Há, depois, as mulheres que falam, mas com uma voz de tal forma sedutora, levemente rouca e ao mesmo tempo luminosa, que é como se não falassem, pois nós, os homens, apenas conseguimos reparar na voz, e não naquilo que elas dizem. «Como podes apaixonar-te por aguém que não conheces?!», aborrece-se a minha mãe. Precisamente, digo-lhe, ninguém se apaixona por um conhecido.
As Mulheres Do Meu Pai - José Eduardo Agualusa (Don Quixote)
De há uns dias para cá, que se espera por hoje. Nada de especial, mas hoje, era o dia em que os The Arcade Fire mostravam mais uma das suas surpresas referentes ao Neon Bible. São uma das melhores bandas mundo, não só pela música, mas pela atitude e conceito. Surpreendem sempre.
- - - - - - - -
Por outro lado, nunca esperei, ver Marion Jones envolvida em casos de esteróides. Marion Jones sempre foi uma força da natureza. Das poucas atletas que ainda faziam o ardiloso ficar pregado em frente ao televisor para uma prova de velocidade. Assim vai o mundo.
O que por cá se ouve...: The Arcade Fire - Neon Bible
I feel just like a child / Well I feel just like a child / I feel just like a little child / I feel just like a child / From my womb to my tomb / I guess I'll always be a child / Some people try and treat me like a man / Yeah some people try and treat me like a man / I just they just don't understand / Well some people try and treat me like a man / They think I know shit / But that's just it / I'm a child / Yeah I need you to tell me what to wear / I need you to help and comb my hair / Yeah I need you to come and tie my shoes / Yeah I need you to come and keep me amused / From my cave to my grave / I guess I'll always be a child / I need you to help me reach the door / And I need you to walk me to the store / And I need you to please explain the war / And I need you to heal me when I'm sore / You can tell by my smile / That I'm a child / And I need you to sit me on your lap / And I need you to make me take my nap / Could you first pull out a book and / Read me some of that / Cause I need you to make me take my nap / And I need you to recognize my friends / Cause they're there even though / You don't see them They got their own chair, plate, and a seat / You know I won't touch my food / Unless they eat From the roof to the floor / I crawl around some more / I'm a child / And I need you to help me blow my nose / And I need you to help me count my toes / And I need you to help me put on my clothes / And I need you to hide it when it shows / From be my daddy's sperm / To being packed in an urn / I'm a child / And when I steal you gotta / Slap me til I cry / Don't you stop til the tears run dry / See I was born thinking under the sky / I didn't belong to a couple of old wise guys / From sucking on my mama's breast / To when they lay my soul to rest / I'm a child / Well I guess I'm always be / A little child
com grande espanto e com a preciosa ajuda de Joana Torrado, que o ardiloso descobre que o seu blogue está em destaque pelos blogues do Sapo. A todos os que por cá passam, o meu obrigado.
O ardiloso é uma daquelas pessoas, que no seu âmago saboreia o lado sofredor da vida. Como se os dias esbatidos e soturnos de Outono fossem uma normalidade. Existe beleza num dia de chuva como o de hoje. Essa beleza pode ainda ser intensificada com um disco em repeat. Um daqueles discos que marcam, pelas letras e pela orquestração dos instrumentos. Um disco de dor de corno. De enganos e desamores. Foi então, ao som do Sad Songs For Dirty Lovers dos The National, que o ardiloso calmamente se passeou à chuva pela cidade. Diz quem viu, que ia mais feliz do que um miúdo munido de um novo brinquedo.
O que por cá se ouve...: The National - 90-Mile Water Wall
'Los viajes son una metáfora, una réplica terrenal del único viaje que de verdade importa: el viaje interior. El viajero peregrino se dirige, más allá del último horizonte, hacia una meta que ya está presente en lo más íntimo de su ser, aunque aún siga oculta a si mirada. Se trata de descobrir esa meta, que equivale a descobrir-se a sí mismo; no se trata de conocer al outro.'
certas vezes o ardiloso sente que não tem o equilíbrio certo. Ontem por um certo espaço de tempo sentiu que todos os planos dimensionais lhe falhavam. Foi como se momentaneamente o tivessem embriagado. Ao que parece, já se encontra sanado.
O que por cá se ouve...: Stone Roses - Made Of Stone